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Sei que esse assunto já foi debatido muitas vezes na internet sobre a decisão da Disney em lançar o live action da Pequena Sereia com uma atriz negra, mas precisamos analisar um pouco melhor toda essa história. 

Se você for uma pessoa sensível, melhor nem ler esta publicação por que aqui vai ter muita opinião, mas se quiser já ser avisado, este blog é a favor da "Pequena Sereia negra" como andam chamando na internet. O que não devemos ser a favor é tornar essa mudança um fantasma para nós mesmos.

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A polêmica sobre a Pequena Sereia negra começou após a Disney ter divulgado que a atriz Halle Bailey viveria o papel da Ariel no live action. Muitos começaram a criticar a decisão por que o clássico da Disney sempre mostrou uma sereia branca e de cabelos vermelhos e agora chegou radicalizando total colocando uma "atriz negra com cabelos crespos". Mas peraí, ainda nem saiu o first look de The Little Mermaid, como podem já dizer que a Ariel será assim?

Preconceito

A questão toda começa com uma palavra: preconceito! Você sabe o que significa essa palavra? Provavelmente a maioria que não quer que a Pequena Sereia seja vivido nos cinemas pela atriz Halle Bailey acredita que preconceito seja somente uma ação redutiva contra gays e negros e na verdade não é. Preconceito está relacionado a um conceito prévio muitas vezes errôneo sobre algo. Um pensamento que é criado a partir de vivências pessoais, educação, cultura ou orientação religiosa e que pode ser ofensivo e nocivo.

O grande problema dessa história toda foi o preconceito criado em cima da escolha de colocar uma atriz negra para ser a protagonista no live action da Pequena Sereia. Muitos desmereceram o potencial da moça como atriz e da espetacular equipe contratada pelos Estúdios Disney por conta somente do tom de pele e cor do cabelo da Halle.

Racismo

Muitos afirmam que quem não aceita a atriz negra como Pequena Sereia é racista. E não podemos negar que muitos tem mesmo este tipo de preconceito nocivo. São pessoas que não aceitam o fato das minorias ganharem espaço de visibilidade e receberem seu devido reconhecimento ao trabalho que a maioria das vezes é bem melhor executado que a classe dominante.

Não estamos aqui para falar destas pessoas e seus comentários destrutivos, por que elas nem merecem vez ou voz, mas vamos focar naqueles que foram talvez injustiçados por expressarem suas opiniões por não terem gostado da escolha da Disney.

Racismo Velado

Muitos que foram criticados por não aceitarem Halle Bailey como a Pequena Sereia foram considerados como racistas sendo acusados por suas opiniões contrárias.

Racismo velado quer dizer: uma forma discreta de demonstrar o racismo. É como se colocassem uma maquiagem no racismo para não parecer ofensivo mas já sendo.

Talvez este post seja acusado da mesma forma por tentar esclarecer e/ou defender parte da opinião desse grupo. Mas vamos afunilar mais ainda esse grupo e retirar o perfil que queremos: aquele que de fato foi injustiçado por expressar sua opinião.

Sabemos que existe o lado ofensivo e destrutivo do racismo velado. Se não duvidar, ele é o mais nocivo de todos, por que pode existir até onde nem sequer está falando sobre negros ou coisa do tipo. Como por exemplo a quase extinta expressão "de boa aparência" que vinham nos anúncios de emprego. Isso queria dizer que estavam a procura de uma pessoa branca, bonita, bem arrumada e com cara de rica, com bons costumes. Graças a Deus, esse termo foi revelado e foi deixando de existir aos poucos.

Antes de chegarmos aos injustiçados como racistas sem terem sido, precisamos abrir parênteses nesta história e comentar sobre uma ramificação desse assunto. No caso:

Autoracismo velado

Muito tempo depois da expressão "boa aparência" ser revelada como racista, ainda se usou do termo para integrar pessoas negras que mantinham o mesmo padrão. E por anos negros tentaram mostrar essa "boa aparência" que se exigiam nos anúncios. Negros se comportavam e tentavam manter o mesmo padrão de vida que a sociedade branca normativa. Neste caso estamos falando de igualdade? Poderíamos..., mas fica aqui uma crítica ao autoracismo velado que cada um projetou em si há alguns anos atrás e se não duvidar projeta-se até hoje:

"Para ter igualdade, não precisa ser parecido! Cada um tem a sua individualidade e personalidade para viver em um mundo regido pela subjetividade. Não existe uma linearidade de forma correta de viver, então, custa usar de sua originalidade para ser quem você é de verdade?"

Por muito tempo a desapropriação cultural foi um autoracismo velado. A crítica não fica para aqueles que nasceram, cresceram e tiveram suas vidas moldadas por uma cultura local e estes tomaram pra si a cultura em que foram inseridas, mas sim aqueles que abandonaram sua história e cultura para ser alguém que quer ser aceito pela sociedade opressora normativa se comportando como os próprios.

A cantora Beyoncé foi julgada como negra querendo ser branca no início de sua carreira, quando lançou músicas no mesmo estilo que artistas brancos da época. Não que ela devesse lançar música africana, por que nem convinha a ela! Correto mesmo era fazer o som pop americano a qual estava inserida e cresceu ouvindo, mas ela sofreu por ter se comportado como forma de autoracismo velado sem existir.

Como poderia ser negra e ser racista contra si mesma? Quase impossível de se aceitar, né? Mas acontece muito... No entanto, Beyoncé foi muito além e fez exatamente ao contrário quando percebeu que dominava o "mundo branco" criado na cabeça dos racistas brancos: ela foi dominar o mundo negro, criado na cabeça dos negros pelos negros e também pelos brancos, quando lançou o álbum Lemonade. Tal atitude poderia ser considerada como heroica e louvável, mas infelizmente permeia um pouco também poderíamos chamar de black money. Só que esse é outro assunto que vamos falar mais a seguir...

Fechando parênteses...

Precisamos entender que muitos não foram racistas ao criticar a Disney por mudar radicalmente a imagem da Pequena Sereia dos desenhos, criada e mantida há anos. De fato, muitos não estavam ali criticando por que uma pessoa negra ter sido escolhido no lugar de uma pessoa branca. Mas sim, por que estavam criando uma resistência a mudança.

Resistência

O novo, o desconhecido e o diferente sempre causam um pouco de medo e insegurança. Sempre que algo sai do padrão, do que já era tido como fixo, causa um certo tipo de estranhamento. É óbvio que existiria uma resistência em mudar! E isso foi julgada por muitos como preconceito racista e na verdade não foi. (Repetindo - estamos falando agora sobre aquela pequena parcela que criticou sem ser racista).

Essa mesma resistência existiu quando começaram a surgir imagens do live action do filme O Rei Leão. "Não é igual ao desenho!", "Não é live action porque continua sendo animação", "pipipi, pópópó" (...) Muitos criticaram da mesma forma e nem por isso existiu um racismo com a raça animal. Sabe por que? Por que o racismo como conhecido foi criado pela sociedade e é mantido por ela até hoje.

Tradição e desconstrução

O que acontece tem muito haver com a desconstrução de uma imagem criada e mantida massivamente há anos. Ou seja, que foi enraizada na cabeça do indivíduo que gerou ao longo do tempo um apego emocional. Neste caso à imagem do desenho A Pequena Sereia da Disney.

Talvez a geração que cresceu nos anos 90 seja a mais penalizada com a quebra dessa tradição e aceitar essa mudança. Se você reparar, esses jovens e adultos foram os que mais viveram eras de evolução e transformações no mundo. Quando criança ouviam discos de vinil, evoluíram para fitas cassete, CD, MP3, MP4 e agora streaming no celular. Por outro lado, essa mesma geração deveria ser a mais suscetível a mudança, por estar acostumado com esses avanços, transformações e revoluções culturais e tecnológicas.

Ao contrário das tecnologias que foram adicionando coisas novas e evoluindo recursos antigos, a imagem da Pequena Sereia foi mantida da mesma forma há anos. Esse talvez foi o grande problema no aceitar a mudança para algo que ainda nem se viu.

Até aqui não estamos falando de A ou B, se é branco ou negro, gay ou cis, mas sim a algo novo que vai ser diferente do anterior. Estamos tratando com um aspecto do preconceito que não tem haver com o racismo.

É mais fácil uma criança aceitar a nova Pequena Sereia. Isso por que ela não tem preconceito? Errado! Criança têm preconceitos e racismos, sim! Só que para ela seria mais fácil lidar com algo porque anteriormente ela não tinha nenhum parâmetro para análise e julgamento. Neste caso, não existia uma identidade visual enraizada na memória emocional dessa criança para que ela tivesse que problematizar. Até mesmo que criança nem sequer lida com essas questões mais filosóficas, científicas e poéticas que estamos tentado chegar a um ponto X aqui nesta publicação. Tais conhecimentos são adquiridos pelas crianças ao longo de sua vida e formam quem são somente numa fase mais madura.

Identidade Visual e Mercadológica

Na cabeça de uma parcela que não foi racista ao criticar nas redes sociais a decisão da Disney, o problema do preconceito com a mudança da Pequena Sereia antes branca e agora negra está ligado a construção de uma nova identidade visual e não com o fato social de alguém de pele mais escura tomar posse de poder que sempre foi de uma classe dominante e opressora.

A Pequena Sereia sempre foi branca e ruiva com a calda verde. Ainda não sabemos como vai ser a nova paleta de cores deste live action. Claro que, bem mais aproximado da realidade que da surrealidade desenvolvida para um desenho animado. Como sabemos que a Halle Bailey será a personagem Ariel, entendemos que a grande diferença nem será tanto com o tom da pele dela, mas sim no esquema de cor do cabelo e também um pouco no penteado.

A identidade visual criada pela Disney para a Ariel, a Pequena Sereia foi específico para animação da época e foi mantida assim por ter dado certo no âmbito mercadológico. Não por que tem haver com orgulho branco por ser uma sereia branca e ruiva, mas pelo fato de criar uma imagem vendável usando esquema de cores que influenciam na hora das tomadas de decisões dos clientes mundo a fora.

Talvez se tivessem divulgado que o live action da Pequena Sereia seria bem realista, deveríamos constatar que ela seria escamosa, numa cor verde lodo e olhos grandes, mas isso não seria bem vendável. É totalmente contrário do live action do filme O Rei Leão, que utiliza animais de verdade realmente como são. Então, sabemos que a escolha tem haver também com finalidades mercadológicas - confirmando o black money comentado acima.

Black Money

Assim como existe o pink money no universo LGBTQ+, há muitos anos existe o black money. Quando o racismo era mais forte e evidente nos Estados Unidos nos anos 50, brancos e negros viviam em mundos diferentes de fato e o para cada subuniverso criado em frente a face social, sempre existiu o mundo mercadológico que os envolviam. Com o passar dos anos esse impasse social foi deixando de existir e ambos os grupos foram lhe dando com as diferenças, mas o black money e toda a cultura negra de raiz nunca deixou de existir.

Assim como o próprio mercado criado por negros para negros existe, marcas que antes eram tidas como "brancas" criaram produtos e ideologias com o intuito de serem inclusivas, mas na verdade só criavam um nicho de vendas para um público específico. Ao serem descobertas e escancaradas por não militarem de fato pelos direitos igualitários, muitas marcas foram condenadas pela falsidade em busca do tão valioso black money - dinheiro dos negros.

Enquanto grupos etnos e militantes brigam por questões sociais se houve ou não racismos (velados ou escancarados), a Disney segue se aproveitando do universo mercadológico movimentado pelo black money e afins.

A escolha pela atriz Halle Bailey nada mais é do que uma estratégia de marketing da Disney. Isso por que sabemos que se a grande empresa do Mickey quisesse, conseguiria criar qualquer que fosse a história a partir somente da ideia do ser mitológico das sereias antes instaurar veladamente a polêmica da Pequena Sereia negra.

Ser Mitológico

Todos sabemos que sereias não existem na realidade. Na verdade, elas existem na mitologia e já foram ilustradas de diversas formas, em pinturas, no cinema, na televizão e etc. O único padrão entre todas é que são metades peixe, vivem na água e tem feições femininas. Nem sequer a história delas são iguais entre as produções conhecidas.

No mundo bruxo do Harry Potter existem os sereianos. Espécies de sereias que aparentemente não tem sexo, mas que mantem um padrão parecido com o ser mitológico. Existiu racismo com a criação deste ser do universo da J.K. Rowling? Não por que não era uma pessoa negra atuando, fato! Mas também não existiu preconceito sobre como seriam. Isso por que não existia um parâmetro pre-estabelecido de como deveriam ser e não foram condenados pelo resultado final pelo mesmo motivo.

Consegue perceber a diferença de preconceito e racismo? Que nem sempre onde há preconceito, há racismo? O racismo nada mais é do que um conceito errôneo e radical sobre diversos fatores no aspecto social e não físico e estético.

Ignorância

Se você parar para analisar, aqueles que criticaram a grande maioria que se expressou contra a Pequena Sereia negra e que por infelicidade e falta de conhecimento usaram a rashtag #NotMyAriel, também usaram de ignorância e preconceitos, seja de forma direta ou usando do próprio racismo velado que existe dentro de si para mostrar e provar que não existe dentro de si algo ruim sobre pessoas terem tom de pele mais escura que outras.

Muitos que se dizem não-racistas e que criticam como racistas pessoas que estão dizendo não serem racistas também, identificando fatos que provem tal racismo, estão mais que mostrando para outrem o quão atitudes racistas podem ter ao revelar o racismo velado que muitas vezes nem existe - como foi o caso identificado aqui de pessoas que criticaram o mudança para uma atriz negra por preconceito no medo da mudança e não da troca de tom de peles, envolvendo âmbitos sócio-meritocráticos.

Todos tem direito de expressão! Isso não quer dizer que posso usar deste meio para fins que corroem direitos de outrem. Mas cabe a cada um aceitar ou não a opinião alheia e não guerrear por visões contrárias.

Este post não está aqui para dizer que A está certo e B está errado, mas para justificar que nem tudo deve ser generalizado e que cada um pode seguir em frente com seus direitos e deverem sem precisar entrar em discussões desnecessárias em torno de temas que existe mais na verdade imaginária de cada um que na realidade de todos.

Opinião do autor

É muito difícil a Disney errar numa produção. Ainda mais dos seus clássicos... Havemos de confiar que o live action de A Pequena Sereia com a atriz negra Halle Bailey será um sucesso e que daqui há não sei quantos anos, quando a empresa recriar um rebut (ou não) com a clássica Ariel branca e ruiva, esse tipo de discussões tenham sido superadas.

Vamos deixar de mimimi por que nem sequer vimos a nova Pequena Sereia. Logo tudo ficará bem! 

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